sexta-feira, setembro 07, 2012

Capítulo X



"É desta forma que devaneios se transmutam em estalos de desrazão. E você tem de permanecer em si e não ser surpreendida. E tem de dissimular com graça e leveza sua incapacidade de manter-se em terra firme.
Em um instante que seguiu outros tanto mais ordinários, de repente, flagra-se a si mesma. Surpreender-se é embaraçoso, e é eterno. É vão e perigoso tentar suspender este embriagado choque – então surpreendemo-nos neste estranho mas ordinário momento. Diante da atmosfera da qual emergem seus olhos injetados, num átimo talvez iminente, revela-se um doce abismo. Sequer flagramos sua potência agora, na queda tão bela e natural entorpecemo-nos com sua terrível candura. Somos tragados ensandecidos por este cortejo titânico.
Na atmosfera cinzenta e agora cintilante da qual emergem nossos olhos injetados de alcova, ouve-se um sem ritmo de estalos surdos da pulsação. O corpo frio, os ossos atônitos."

Trecho de narrativa a ser publicada. Mayara Roman,  2012

domingo, setembro 02, 2012

Na voz da morte a me bradar

Vemos que no peito palpita uma incerteza muda, e também nos olhos vemos palpitar
espasmos de uma incerteza dormente. Sob as pálpebras insalubres sentimos a aridez de
uma cólera rija. Sentimos no corpo frio a ardente quietude ricochetear de uma têmpora a
outra. Docemente, a neblina fina penetra os pulmões. Docemente o solo frio torna sua
pele convalescente. Sob cabelos, fêmures e vozes em sublimação concebe-nos uma
arritmia muda. Sob as pálpebras áridas em derradeiro uníssono adormecemos. Em
minha vigília há de latejar seu epitáfio.

Mayara Roman
23/03/2011