domingo, abril 20, 2014

Carmilla

Eram muitas veias e não se sabia quanto sangue havia ali, e nada se podia supor sobre os caminhos lilases e o verde menta pulsante a formar aquarelas na pele demasiado alheia. Nas notas em pastel e nos fios muito pretos só se podia especular - e ela devia sorrir de confusão e ser graciosa. Na penumbra e no sol a despontar, pálido e precoce, os caninos de tempos eram expostos - mas nada respondiam em sua insuportável doçura. 


sexta-feira, abril 18, 2014

Repouso

Um, dois, três. E na calçada os passos em cinza, cinco, seis, sete, oito, em castanho - e há também aquela quase vegetação a despontar das arestas. Três, quatro. O pôr-do-sol a queimar as retinas, não convidado mas permitido, ardem os olhos por capricho. 

Chega em casa, tira os calçados. Veste os olhos de luz e sombra a cada movimento de interruptor. Nu, com fome e com sede enfim, permite-se fitar pelo espelho. As janelas fechadas, a natureza - ou a sugestão dela - em paisagem novamente. O rosto estranho emoldurado pelo brilho dos fios castanhos de repente muito sujos. Sua nudez tona-se apenas um embaraço no banheiro frio, interrompida pelo olhar de um outro que não havia sido convidado - apenas permitido.

Os olhos fechados então debaixo do chuveiro elétrico. A água quente no escuro torna-se cinza, torna-se castanha e ele podia jurar que havia verde. Cinco, seis, sete, oito.