Mas você nunca acreditaria em mim, ela disse. Os cabelos molhados corretamente desembaraçados sobre os ombros vestidos. Os dentes a despontar em seu brilho de um branco que ganhara tons de verniz amarelado. O rosto demasiado limpo, a pele sobre os ossos agora era luz e sombra. Uma mariposa de tons azulados voou pelo quarto, pousando fatidicamente no copo com água esquecido sobre o criado-mudo. O animal descorou-se brevemente, deixando sua tinta preta descer espiralada pelo copo como um pincel em aquarela. Você nunca acreditaria. Fez-se uma pausa e sua garganta apertou-se novamente. Fez-se uma pausa e ela imaginou que tirava a mariposa do copo com um lápis - não o fez. Era dia, e uma folha seca pôde entrar pela janela. Contida e estranhamente leve, fez-se perplexa diante de tais incidentes - como tudo pode tornar-se estranho! Não tornou a dizer, mas nós sabíamos - eu nunca acreditaria.
segunda-feira, maio 19, 2014
A janela do quarto, em seu vidro emoldurado, era só espera, era só um talvez permanente - uma serenidade inquietante. A madrugada, ao suspender o tempo e a ação, é a hora mais concreta. E do lado de lá da janela era também a hora mais fria e mais escura, e então a imagem não mais emoldurada ardia em seus pulmões, penetrando-lhes a cada piscar ritmado de olhos, e seu rosto contorcia-se em um sorriso infantil e clandestino. E sabia que desceria ao chão, os olhos fixos na parede, de joelhos diante de - diante de algo ou alguém que ela não ousaria evocar, mas esperava desconcertada. Sim, havia histórias, havia rumores. Ponderando sobre elas, sabia que nada havia de mais concreto que a neblina - a neblina de lá de fora, e ela imaginava como seria se estivesse em seus pulmões.
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