terça-feira, maio 27, 2014

Outono

Mas você nunca acreditaria em mim, ela disse. Os cabelos molhados corretamente desembaraçados sobre os ombros vestidos. Os dentes a despontar em seu brilho de um branco que ganhara tons de verniz amarelado. O rosto demasiado limpo, a pele sobre os ossos agora era luz e sombra. Uma mariposa de tons azulados voou pelo quarto, pousando fatidicamente no copo com água esquecido sobre o criado-mudo. O animal descorou-se brevemente, deixando sua tinta preta descer espiralada pelo copo como um pincel em aquarela. Você nunca acreditaria. Fez-se uma pausa e sua garganta apertou-se novamente. Fez-se uma pausa e ela imaginou que tirava a mariposa do copo com um lápis - não o fez. Era dia, e uma folha seca pôde entrar pela janela. Contida e estranhamente leve, fez-se perplexa diante de tais incidentes - como tudo pode tornar-se estranho! Não tornou a dizer, mas nós sabíamos - eu nunca acreditaria.